Nem todo mundo sabe que a Rocinha abriga um Parque Ecológico, localizado na Floresta da Tijuca e que é parte de uma reserva ambiental federal. Com acesso fácil pela Estrada da Gávea, por onde circulam vans e ônibus, a entrada principal do parque se situa na altura do trecho conhecido como Portão Vermelho na Rocinha. Esta grande área de lazer arborizada de 9.000 m2 foi inaugurada em 2012 e, na época, contava com diversos equipamentos como quadra de tênis, paredão de escalada, quadra poliesportiva, banheiros públicos, chuveiros, anfiteatro, playground infantil, linhas de arvorismo, redário, área de convivência com churrasqueiras, espaço de meditação e hortas comunitárias.

O Parque Ecológico da Rocinha foi uma iniciativa do governo do Estado em sequência às obras do PAC1 em 2012, executado com recursos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano - FECAM ao custo de R$ 24 milhões. Com objetivo de conter a expansão horizontal dos setores Laboriaux e Dionéia sobre a floresta e criar uma grande área de lazer para os moradores da Rocinha, teria potencial para se transformar em ponto exemplar de turismo ecológico da cidade, pela singularidade da integração da floresta com a favela. Infelizmente, contudo, o espaço nunca chegou a ser plenamente apropriado pelos moradores. Em parte, por conta de sua localização um pouco deslocada da área mais central da favela, mas muito provavelmente porque, dentro do Parque Ecológico, também foi implantada no mesmo ano da sua criação, uma Unidade da Polícia Pacificadora (UPP), o que interferiu diretamente na dinâmica do uso do espaço, que acabou ficando negativamente marcado na história da cidade como o local onde, em julho de 2013, o ajudante de pedreiro Amarildo foi torturado até a morte e desapareceu.

Apesar do pedido de sua municipalização por parte dos moradores junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima, a gestão do Parque Ecológico da Rocinha segue indefinida, e por isso o espaço encontra-se quase completamente abandonado. Além do depósito clandestino de lixo e entulho, a área vem sendo utilizada como área de estacionamento e sofrendo grande pressão de ocupação por especuladores do mercado imobiliário informal que levantam construções em espaços público e até sobre equipamentos do parque, como é mostrado abaixo em fotos do “antes e depois”. A situação só não é ainda pior por conta do movimento de reocupação do espaço liderado pelos “Amigos do Parque Ecológico da Rocinha”.

A comunidade reivindica a recuperação dos equipamentos existentes, o controle, pelo poder público, das ocupações irregulares, e a retomada da ocupação dos espaços por atividades culturais, esportivas e educativas. Como prova disso, desde o final de 2021, diversos coletivos de cultura e educação ambiental da Rocinha, liderados pelo coletivo APAER (Amigos do Parque Ecológico da Rocinha) e em parceria com DAU PUC-Rio e FAU/UFRJ através de projetos de extensão, vem se mobilizando e promovendo encontros mensais para manter o parque vivo em sua finalidade original. São atividades culturais, ambientais, recreativas e de cuidado com o parque, que incluem a limpeza e uso dos espaços para rodas de conversas, palestras, oficinas, apresentações de dança, de capoeira, de música, confecção de placas informativas, pintura dos muros com grafite, implantação de tetos verdes. As ações têm foco no envolvimento comunitário e das escolas locais em busca de reativação e ressignificação do espaço mas não contam, infelizmente, com o apoio do poder público. O trabalho realizado pelo coletivo APAER e seus parceiros há mais de três anos, tem mostrado a importância do envolvimento dos grupos locais para a recuperação e a reativação de um espaço importante para a Rocinha e para a cidade que não pode simplesmente desaparecer!