Estrada da Gávea
Com seus 1,6km, a Estrada da Gávea interliga a Rua Marquês de São Vicente, no bairro da Gávea, à Estrada do Joá, em São Conrado. Até 1916, quando foi inaugurada a Av Niemeyer, era o único meio de acesso a São Conrado. Por seu desenho sinuoso, e suas belas paisagens, também foi consagrada como palco dos Grandes Prêmios Automobilísticos da Gávea, nos anos de 1950, que incluía a via em seu circuito. Nela circulavam as “baratinhas” com grande emoção, em especial nos conhecidos trechos do Trampolim e da Curva do S.
Mas a Estrada da Gávea também é o vetor estruturante da ocupação da Rocinha, dela tendo derivado as vias secundárias do Loteamento Castro Guidon (1925-1927), com suas ruas 1,2, 3 e 4, que permitiram a formação da favela. Um marco importante nesse processo foi a construção da Capela Nossa Senhora da Boa Viagem, inaugurada em 1938, que dá origem à primeira concentração de atividades comerciais na Rocinha. O processo de ocupação intensificou-se ainda mais, a partir dos anos 1940, quando surgiram centenas de habitações, erguidas com sobras de obras e em geral cobertas por telhas de zinco. As décadas de 1940 e 1950 foram marcadas pela consolidação da ocupação da Rocinha.
Hoje, a Estrada da Gávea é a principal via de acesso à Rocinha, cortando a favela no meio. É também o principal eixo comercial, institucional e de prestação de serviços da Rocinha. Além disso, segue sendo importante como via de desafogo do trânsito quando a Auto Estrada Lagoa Barra e a Avenida Niemeyer encontram-se congestionadas.
Por conta dessa sobreposição de funções, a Estrada da Gávea foi sendo gradualmente engolida por um processo de desordem urbana, para o qual muito contribuiu a desatenção do poder público, que não cuida dela da forma como cuida de outras vias de ligação da Zona Sul. O resultado é uma situação caótica, que combina um denso trânsito de motos, carros, vans e ônibus, de calçadas obstruídas, de lixo espalhado por toda a via, entre outros fatores. Nesse cenário, os moradores da Rocinha ficam expostos a uma situação de crescente constrangimento no seu direito de ir e vir, em uma realidade que é especialmente dramática para idosos, crianças e pessoas com deficiência. Por seu turno, a cidade perde uma via de acesso estratégica na comunicação entre os bairros do entorno. É urgente reverter essa situação!
Consolidado na segunda metade da década de 2000, o Plano Diretor da Rocinha já previa intervenções até certo ponto simples mas com grande impacto para as condições de uso da Estrada da Gávea. Entre elas, a implantação de um binário, e de uma série de outras medidas que são da alçada do poder público municipal, como a fiscalização de barreiras nas calçadas e de estacionamento irregular nos dois lados da via; e a reorganização dos espaços e das atividades de coleta de lixo.
A defesa da Estrada da Gávea como um espaço público da cidade deveria ser uma prioridade do poder público municipal, pois além de beneficiar de modo muito significativo a qualidade de vida dos moradores da Rocinha, também preserva uma artéria importante para a dinâmica urbana da região.